Eu sempre a
desejei. Educação à parte, eu a devorava com os olhos toda vez que a via.
Talvez ela não possuísse os padrões de beleza que fizessem todos enxergarem a
perfeição que eu via, sentia, e queria. Mas, naquela mulher, tudo estava em
perfeita harmonia, não sendo preciso acrescentar ou retirar qualquer detalhe.
Aos olhos do poeta, ela era uma espécie de Deusa. E eu a conquistei. Éramos
dois apaixonados inconfessos, mas sem o primeiro beijo, sem o beijo que nos uniria,
afinal, o entrelace das línguas sela a união. Numa noite qualquer, sentamos na
calçada da casa dela. Fiz uma investida e avancei para beija-la. Mão trêmula,
coração à beira de um infarto, respiração quase ofegante. Minha boca estava a
menos de cinco centímetros da boca mais bem desenhada, mais perfeita, mais
desejável de que se teve notícias. Menos de um segundo separava nós dois de
sermos apenas um, unidos pelo beijo apaixonado. Aquele segundo durou décadas,
séculos, mas passou. Carinhosamente, a segurei por trás da cabeça, pelos
cabelos, e a beijei. Fui aos céus e voltei.
Um pequeno canto de leituras, com crônicas, contos, "contos de um parágrafo só" e artigos de opinião de um ainda jovem escritor. Nas crônicas retrato um episódio do meu cotidiano que chamou minha atenção; os contos refletem a vida, em sua face mais real, e, por vezes, trágica; talvez um novo gênero literário, os "contos de um parágrafo só" mostram a visão do amor, da paixão. Verba volant, scripta manent.
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