Sem cerimônia, confesso: eu não desejo um mundo
melhor. Não perderei o meu tempo desejando o impossível do impossível. Os
cretinos de plantão objetarão: “Nós devemos sempre desejar o impossível, o
improvável” e eles não estão totalmente equivocados. O problema é não saber que
essa manjada expressão, essa frase pronta, é uma metáfora, uma figura de
linguagem, que tem por escopo dar-nos ânimo e perseverança para buscarmos
aquilo que almejamos do fundo de coração, mas que é de difícil alcance, sendo
quase impossível a realização do desejo. “Sempre desejar o impossível” não tem
a ver com tentar cavar um buraco para chegar ao Japão utilizando uma pá.
Tentar construir um mundo melhor é, sem sombra de
dúvida, tentar, em posse apenas de uma pá, cavar um buraco até o Japão.
Qualquer projeto, qualquer objetivo, que dependa da participação e da dedicação
de mais alguém, além de você mesmo, tem uma grande chance de dar errado, total
ou parcialmente. Agora imagine algo que dependa da boa vontade de mais de 6
bilhões de pessoas, afinal, o mundo só pode ser um lugar melhor se todas as
pessoas que nele residem trabalharem para o bem. Aquele que acredita que tornará o mundo um
lugar melhor é demasiadamente leviano. Grandes mentes tiveram contribuições
inimagináveis para que as pessoas fossem um pouco melhor – seja de qual maneira
for: enriquecendo a cultura alheia, traçando diretrizes de vida ou sendo
exemplos – mas não conseguiram, e nem tentaram, que o mundo fosse melhor. Na
verdade, até onde sei, grandes eruditos, como Newton, Adam Smith, Aristóteles,
Einsten, Galileu Galilei, entre outros, passaram a maior parte de suas vias
preocupados apenas com o próprio mundo, tentando resolver as equações que a
vida lhes proporcionava, sem tentar que o mundo fosse melhor e, no entanto,
deram contribuições infinitamente mais importante para a humanidade do que
qualquer um que venda qualquer ideia para tornar o mundo um lugar melhor.
A única coisa que me parece viável, ante a nossa
insignificância numa perspectiva mundial, é uma mudança no próprio indivíduo
para que este – sendo muito otimista – torne o local que o rodeia melhor, e –
sendo mais otimista ainda – que contagie outras pessoas para que façam o mesmo.
Digo que é necessário ser muito otimista porque a mudança necessária para
fazer-se melhor, e possivelmente fazer nascer em outra pessoa a vontade de
também ser melhor, é cansativa, desgastante, por vezes frustrante, é traçada
num caminho amargo e cruel, faz com que seja necessário abrir mão de coisas que
são valiosas, não raras vezes exige que demos o braço a torcer, e acaba por
tornar o sujeito mais chato e evitável. E eu desconheço alguém que venda ideias
de um mundo melhor que tenha passado pelo caminho citado ou que realmente
estava mais preocupado com o próximo – ou os mais de 6 bilhões de próximos – a
ponto de lutar por um mundo melhor.
Inegável que há pessoas boas por natureza, que tentam
fazer algo pelo próximo, mas inegável também que há pessoas preocupadas apenas
com desejos egoísticos e mundanos e que, para a realização destes ignóbeis
desejos, acabam por tornar o “mundo” – entre aspas pois não me refiro ao mundo
em sentido global – um lugar pior e mais cruel. E tenham certeza de que más
ações, intencionais ou não, têm mais poder e afetação por maior tempo do que
boas ações. As más ações, de certa forma, são mais fáceis de serem atingidas:
para que uma ação bem intencionada se concretize é necessária uma dedicação
colossal em meio a um estado de coisas que a todo o momento conspira para que o
projeto não se realize. E, caso seja realizado, só perdurará se outras pessoas
estiverem dispostas a ter uma dedicação igual ou superior.
Mesmo com
tanta dificuldade, eu acredito que valha a pena passar por tanta dificuldade na
tentativa de transformar-se. A sensação de trabalho feito, de reconhecimento
verdadeiro, de missão cumprida, faz com que esqueçamos as dificuldades passadas
e apreciemos o gostinho da vitória com um prazer ímpar. E não importa de que
tamanho a vitória seja, pois ainda que nos pareça uma vitória colossal, haverá
pessoas dispostas a diminuir a conquista, menosprezando os méritos
conquistados. Ignorar esse tipo de deboche é necessário e um pouco difícil.
Para conseguir ignorá-los, é necessário sempre agir com sinceridade para poder
olhar no fundo da alma, avaliar as atitudes e as ações, e ter a certeza de que
o trabalho realizado foi, sim, de grande importância.
Maraviiilhoooooso *-*
ResponderExcluirÓtimo texto garoto! Concordo com suas palavras.
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