segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Não desejo um mundo melhor


Sem cerimônia, confesso: eu não desejo um mundo melhor. Não perderei o meu tempo desejando o impossível do impossível. Os cretinos de plantão objetarão: “Nós devemos sempre desejar o impossível, o improvável” e eles não estão totalmente equivocados. O problema é não saber que essa manjada expressão, essa frase pronta, é uma metáfora, uma figura de linguagem, que tem por escopo dar-nos ânimo e perseverança para buscarmos aquilo que almejamos do fundo de coração, mas que é de difícil alcance, sendo quase impossível a realização do desejo. “Sempre desejar o impossível” não tem a ver com tentar cavar um buraco para chegar ao Japão utilizando uma pá.

Tentar construir um mundo melhor é, sem sombra de dúvida, tentar, em posse apenas de uma pá, cavar um buraco até o Japão. Qualquer projeto, qualquer objetivo, que dependa da participação e da dedicação de mais alguém, além de você mesmo, tem uma grande chance de dar errado, total ou parcialmente. Agora imagine algo que dependa da boa vontade de mais de 6 bilhões de pessoas, afinal, o mundo só pode ser um lugar melhor se todas as pessoas que nele residem trabalharem para o bem.  Aquele que acredita que tornará o mundo um lugar melhor é demasiadamente leviano. Grandes mentes tiveram contribuições inimagináveis para que as pessoas fossem um pouco melhor – seja de qual maneira for: enriquecendo a cultura alheia, traçando diretrizes de vida ou sendo exemplos – mas não conseguiram, e nem tentaram, que o mundo fosse melhor. Na verdade, até onde sei, grandes eruditos, como Newton, Adam Smith, Aristóteles, Einsten, Galileu Galilei, entre outros, passaram a maior parte de suas vias preocupados apenas com o próprio mundo, tentando resolver as equações que a vida lhes proporcionava, sem tentar que o mundo fosse melhor e, no entanto, deram contribuições infinitamente mais importante para a humanidade do que qualquer um que venda qualquer ideia para tornar o mundo um lugar melhor.

A única coisa que me parece viável, ante a nossa insignificância numa perspectiva mundial, é uma mudança no próprio indivíduo para que este – sendo muito otimista – torne o local que o rodeia melhor, e – sendo mais otimista ainda – que contagie outras pessoas para que façam o mesmo. Digo que é necessário ser muito otimista porque a mudança necessária para fazer-se melhor, e possivelmente fazer nascer em outra pessoa a vontade de também ser melhor, é cansativa, desgastante, por vezes frustrante, é traçada num caminho amargo e cruel, faz com que seja necessário abrir mão de coisas que são valiosas, não raras vezes exige que demos o braço a torcer, e acaba por tornar o sujeito mais chato e evitável. E eu desconheço alguém que venda ideias de um mundo melhor que tenha passado pelo caminho citado ou que realmente estava mais preocupado com o próximo – ou os mais de 6 bilhões de próximos – a ponto de lutar por um mundo melhor.

Inegável que há pessoas boas por natureza, que tentam fazer algo pelo próximo, mas inegável também que há pessoas preocupadas apenas com desejos egoísticos e mundanos e que, para a realização destes ignóbeis desejos, acabam por tornar o “mundo” – entre aspas pois não me refiro ao mundo em sentido global – um lugar pior e mais cruel. E tenham certeza de que más ações, intencionais ou não, têm mais poder e afetação por maior tempo do que boas ações. As más ações, de certa forma, são mais fáceis de serem atingidas: para que uma ação bem intencionada se concretize é necessária uma dedicação colossal em meio a um estado de coisas que a todo o momento conspira para que o projeto não se realize. E, caso seja realizado, só perdurará se outras pessoas estiverem dispostas a ter uma dedicação igual ou superior.

Mesmo com tanta dificuldade, eu acredito que valha a pena passar por tanta dificuldade na tentativa de transformar-se. A sensação de trabalho feito, de reconhecimento verdadeiro, de missão cumprida, faz com que esqueçamos as dificuldades passadas e apreciemos o gostinho da vitória com um prazer ímpar. E não importa de que tamanho a vitória seja, pois ainda que nos pareça uma vitória colossal, haverá pessoas dispostas a diminuir a conquista, menosprezando os méritos conquistados. Ignorar esse tipo de deboche é necessário e um pouco difícil. Para conseguir ignorá-los, é necessário sempre agir com sinceridade para poder olhar no fundo da alma, avaliar as atitudes e as ações, e ter a certeza de que o trabalho realizado foi, sim, de grande importância.

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