domingo, 23 de setembro de 2012

A disputa eleitoral mirantense


Já nas primeiras linhas eu advirto que não tratarei do mérito de cada candidato, mas, sim da corrida, da disputa eleitoral pelo cargo máximo do poder executivo municipal. Os defeitos e qualidades, os acertos e os erros, o que um candidato pode fazer ou não, deixo para que os próprios digam. Alerto, ainda no primeiro parágrafo, que não sou partidário de nenhum dos candidatos e não tenho por escopo enaltecer um ou depreciar outro candidato a prefeito ou a vareador. Nas linhas a seguir tratarei apenas dos pontos em comum entre a maioria dos candidatos.

A receita seguida para a propaganda e a visibilidade dos candidatos é a mesma de sempre: jingles, adesivos, santinhos, visitas e coisas do tipo. Não vejo problema no tipo de propaganda que praticamente todos os candidatos – quando digo “candidatos”, refiro-me a candidato a prefeito, vice-prefeito e a vereador – escolheram. Até acho que não escolheram tão mal, afinal, essa receita sempre funcionou. Evidente que um pouco mais de criatividade deixaria a disputa bem mais interessante. Se o candidato criasse algo de diferente para divulgar a própria imagem e as ideias, não tenho dúvidas de que ele seria mais comentado e, por conseguinte, teria mais visibilidade, obtendo vantagem sobre os demais candidatos. Não é segredo que uma grande visibilidade na campanha eleitoral gera o comentário de que o candidato “está bem”, ou seja, que é muito popular e com grandes chances de vencer a disputa eleitoral. E não há poder maior para angariar votos do que parecer estar à frente na corrida eleitoral, mesmo que não esteja. Propaganda é tudo.

Os candidatos poderiam surpreender não só na campanha, mas, também, nas propostas. Mesmo que não tenham intenção de fazer algo por alguma coisa, ficar repetindo que “fará mais pela saúde e a educação” evidencia uma enorme falta de criatividade e de propostas. Sinceramente, o que me parece é que o candidato sequer sabe por que quer ser vereador ou prefeito, e pensa: “aaaa, fala que eu vou fazer mais pela saúde e pela educação!”. Ademais, fazer mais pela saúde e pela educação não é tão fácil quanto parece, não basta ser eleito prefeito ou vereador para se fazer mais pela educação. De início, a dificuldade maior está no pouco poder que o município possui. Apesar de a Constituição Federal garantir certa soberania aos municípios, não é suficiente para que um município pequeno e pobre como Mirante do Paranapanema tome as próprias diretrizes acerca do que quer que seja. Além do mais, há uma grande concentração de poder nas mãos do governo do estado e do governo Federal. Estes dois têm poder para traçar o rumo de um município, e mais força ainda se o município for de proporção mirantense. Ao contrário do que se espera de uma Federação (a junção de vários estados, como, por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e os demais estados, forma a Federação) não vejo uma regionalização do poder. Sendo assim, sem que o candidato tenha uma grande influência com gente mais poderosa que ele, não posso acreditar que fará mais pela saúde ou pela educação apenas por que o santinho dele promete.

Voltemos aos jingles. Sempre gostei dos jingles, alguns são engraçados e realmente cumprem a razão de existir: grudar na cabeça e fazer o eleitor lembrar-se do candidato e, principalmente, do número a ser teclado na urna. Outros jingles, pelo contrário, são horríveis e anunciados pela cidade inteira através de um som de péssima qualidade. Mesmo que o jingle seja bom ou ruim, esteja num excelente ou num péssimo som, andar pelas ruas a 22 KM/H e o jingle num volume ensurdecedor não ajudará a atrair eleitores. Isso é indiscutível. O som, na maior das alturas, atrapalha a paz de espírito, atrapalha o sossego, atrapalha a concentração no trabalho, atrapalha a concentração nos estudos, atrapalha a concentração de olhar para uma parede. E – exceto aqueles que já eram adeptos do “sonzão de carro” – ninguém gosta, ninguém acha engraçado, ninguém sente prazer quando um carro com um som num volume irritante passa. Então, não coloquem os jingles numa altura para que surdos ouçam. Se o jingle for bom e anunciado numa altura agradável, será aceito com maior facilidade.

As carreatas estão sendo usadas mais do que nunca. Não nego que elas sejam eficientes para dar visibilidade e uma impressão de que fulano está na frente na corrida eleitoral. Porém, basear a campanha como se a o voto devesse ser decidido a partir de quem tem uma maior carreata é ridículo. Não digo por dizer, é só olhar o maior veículo de informação de nosso tempo: o Facebook. Nos compartilhamentos há comparações de ambos os lados sobre qual candidato é melhor porque a carreata ou o comício foi maior. Não creio que a disputa eleitoral deva ser baseada na quantidade de pessoas numa carreata ou num comício. Carretas com fogos: próximo parágrafo.

As carreatas com os fogos – em especial os fogos – não seriam problema se não acontecessem também nos sábados e nos domingos no período da manhã. Sem dúvida, os fogos de manhã irritam colossalmente. Não vejo como os candidatos puderam imaginar que soltando fogos a partir das oito horas da manhã de um sábado ou de um domingo poderiam angariar votos. Tomarei meu exemplo para demonstrar o ridículo raciocínio estratégico: Segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira meu dia começa às oito da manhã e só para de verdade às onze horas da noite. Acordo cedo para trabalhar o dia inteiro e, durante a noite, estudo em Presidente Prudente. Esta rotina não seria um problema se eu não fosse um homem de insônias desesperadoras. Sem saber o motivo, diariamente demoro um tempo enorme para começar a dormir e tenho que acordar cedo, o que me priva de preciosas horas de sono durante toda a semana. Qual a melhor solução? Dormir até mais tarde no sábado e no domingo, evidentemente. Porém, infelizmente, os candidatos de ambas as partes não permitem que eu e milhares de trabalhadores descansemos nos dois únicos ou, para quem trabalha no sábado, no único dia da semana disponível para dormir até mais tarde, e verdade seja dita: todos gostam de dormir até mais tarde. O que ninguém gosta – eu garanto – é de ser acordado às oito horas da manhã do sábado e do domingo, porque, como resultado, não será possível descansar para recomeçar a semana.

Mas, para a saúde do sono de milhares de trabalhadores, dia sete de outubro isso tudo acabará. Ou não.

2 comentários:

  1. Isso aí! Adorei...Projeto difícil é a regionalização do poder. Ahhh e sem falar nos nossos animaizinhos que sofrem demais com os fogos!

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  2. Realmente muito bom sua crônica... e tenha certeza de que essa palhaçada não acontece somente na sua cidade!!!

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