Já nas primeiras linhas eu advirto que não tratarei
do mérito de cada candidato, mas, sim da corrida, da disputa eleitoral pelo
cargo máximo do poder executivo municipal. Os defeitos e qualidades, os acertos
e os erros, o que um candidato pode fazer ou não, deixo para que os próprios
digam. Alerto, ainda no primeiro parágrafo, que não sou partidário de nenhum dos
candidatos e não tenho por escopo enaltecer um ou depreciar outro candidato a
prefeito ou a vareador. Nas linhas a seguir tratarei apenas dos pontos em comum
entre a maioria dos candidatos.
A receita seguida para a propaganda e a visibilidade
dos candidatos é a mesma de sempre: jingles, adesivos, santinhos, visitas e
coisas do tipo. Não vejo problema no tipo de propaganda que praticamente todos
os candidatos – quando digo “candidatos”, refiro-me a candidato a prefeito,
vice-prefeito e a vereador – escolheram. Até acho que não escolheram tão mal,
afinal, essa receita sempre funcionou. Evidente que um pouco mais de
criatividade deixaria a disputa bem mais interessante. Se o candidato criasse
algo de diferente para divulgar a própria imagem e as ideias, não tenho dúvidas
de que ele seria mais comentado e, por conseguinte, teria mais visibilidade,
obtendo vantagem sobre os demais candidatos. Não é segredo que uma grande
visibilidade na campanha eleitoral gera o comentário de que o candidato “está
bem”, ou seja, que é muito popular e com grandes chances de vencer a disputa
eleitoral. E não há poder maior para angariar votos do que parecer estar à
frente na corrida eleitoral, mesmo que não esteja. Propaganda é tudo.
Os candidatos poderiam surpreender não só na
campanha, mas, também, nas propostas. Mesmo que não tenham intenção de fazer
algo por alguma coisa, ficar repetindo que “fará mais pela saúde e a educação”
evidencia uma enorme falta de criatividade e de propostas. Sinceramente, o que
me parece é que o candidato sequer sabe por que quer ser vereador ou prefeito,
e pensa: “aaaa, fala que eu vou fazer mais pela saúde e pela educação!”.
Ademais, fazer mais pela saúde e pela educação não é tão fácil quanto parece,
não basta ser eleito prefeito ou vereador para se fazer mais pela educação. De
início, a dificuldade maior está no pouco poder que o município possui. Apesar de
a Constituição Federal garantir certa soberania aos municípios, não é
suficiente para que um município pequeno e pobre como Mirante do Paranapanema
tome as próprias diretrizes acerca do que quer que seja. Além do mais, há uma
grande concentração de poder nas mãos do governo do estado e do governo Federal.
Estes dois têm poder para traçar o rumo de um município, e mais força ainda se
o município for de proporção mirantense. Ao contrário do que se espera de uma
Federação (a junção de vários estados, como, por exemplo, São Paulo, Rio de
Janeiro, Espírito Santo e os demais estados, forma a Federação) não vejo uma
regionalização do poder. Sendo assim, sem que o candidato tenha uma grande
influência com gente mais poderosa que ele, não posso acreditar que fará mais
pela saúde ou pela educação apenas por que o santinho dele promete.
Voltemos aos jingles. Sempre gostei dos jingles,
alguns são engraçados e realmente cumprem a razão de existir: grudar na cabeça
e fazer o eleitor lembrar-se do candidato e, principalmente, do número a ser
teclado na urna. Outros jingles, pelo contrário, são horríveis e anunciados
pela cidade inteira através de um som de péssima qualidade. Mesmo que o jingle seja
bom ou ruim, esteja num excelente ou num péssimo som, andar pelas ruas a 22
KM/H e o jingle num volume ensurdecedor não ajudará a atrair eleitores. Isso é
indiscutível. O som, na maior das alturas, atrapalha a paz de espírito,
atrapalha o sossego, atrapalha a concentração no trabalho, atrapalha a
concentração nos estudos, atrapalha a concentração de olhar para uma parede. E –
exceto aqueles que já eram adeptos do “sonzão de carro” – ninguém gosta,
ninguém acha engraçado, ninguém sente prazer quando um carro com um som num
volume irritante passa. Então, não coloquem os jingles numa altura para que
surdos ouçam. Se o jingle for bom e anunciado numa altura agradável, será
aceito com maior facilidade.
As carreatas estão sendo usadas mais do que nunca.
Não nego que elas sejam eficientes para dar visibilidade e uma impressão de que
fulano está na frente na corrida eleitoral. Porém, basear a campanha como se a
o voto devesse ser decidido a partir de quem tem uma maior carreata é ridículo.
Não digo por dizer, é só olhar o maior veículo de informação de nosso tempo: o
Facebook. Nos compartilhamentos há comparações de ambos os lados sobre qual
candidato é melhor porque a carreata ou o comício foi maior. Não creio que a
disputa eleitoral deva ser baseada na quantidade de pessoas numa carreata ou
num comício. Carretas com fogos: próximo parágrafo.
As carreatas com os fogos – em especial os fogos –
não seriam problema se não acontecessem também nos sábados e nos domingos no
período da manhã. Sem dúvida, os fogos de manhã irritam colossalmente. Não vejo
como os candidatos puderam imaginar que soltando fogos a partir das oito horas
da manhã de um sábado ou de um domingo poderiam angariar votos. Tomarei meu exemplo
para demonstrar o ridículo raciocínio estratégico: Segunda, terça, quarta,
quinta e sexta-feira meu dia começa às oito da manhã e só para de verdade às
onze horas da noite. Acordo cedo para trabalhar o dia inteiro e, durante a
noite, estudo em Presidente Prudente. Esta rotina não seria um problema se eu
não fosse um homem de insônias desesperadoras. Sem saber o motivo, diariamente
demoro um tempo enorme para começar a dormir e tenho que acordar cedo, o que me
priva de preciosas horas de sono durante toda a semana. Qual a melhor solução?
Dormir até mais tarde no sábado e no domingo, evidentemente. Porém,
infelizmente, os candidatos de ambas as partes não permitem que eu e milhares
de trabalhadores descansemos nos dois únicos ou, para quem trabalha no sábado,
no único dia da semana disponível para dormir até mais tarde, e verdade seja
dita: todos gostam de dormir até mais tarde. O que ninguém gosta – eu garanto –
é de ser acordado às oito horas da manhã do sábado e do domingo, porque, como
resultado, não será possível descansar para recomeçar a semana.
Mas, para a saúde do sono de milhares de trabalhadores, dia sete de outubro isso tudo acabará. Ou não.
Isso aí! Adorei...Projeto difícil é a regionalização do poder. Ahhh e sem falar nos nossos animaizinhos que sofrem demais com os fogos!
ResponderExcluirRealmente muito bom sua crônica... e tenha certeza de que essa palhaçada não acontece somente na sua cidade!!!
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