Aílton era o tipo conquistador, daqueles de cinema,
dos contos. Na cidade onde morava, que não era grande nem pequena, as mulheres,
casadas ou não, o conheciam e, mais cedo ou mais tarde, pegavam-se pensando em
Aílton. Este nunca foi um homem de virtudes inabaláveis, de um senso moral
aguçado. Saia com qualquer tipo de mulher, casadas ou não. Não há diferença
entre elas – dizia ele – todas procuram o pecado!
Quando ainda era um garoto, ouvia as conversas dos
mais velhos, cretinos mais velhos. Um ensinamento que Aílton aprendeu com as
conversas, e que pôs em prática a vida toda, foi o de que o homem só era homem
se tivesse várias mulheres. Não uma, ou duas, mas várias. Cresceu assim, com
várias mulheres. Inegavelmente, se tornou um Doutor em Infidelidade; era o
melhor. Conseguia sair com três ou quatro mulheres por semana sem que uma
jamais desconfiasse da existência da outra. Em certa ocasião, enquanto bebia no
bar com um amigo, disse:
– Comigo é assim mesmo, entendeu? Dou à mulher aquilo que ela deseja, aquilo que
deseja! Ou você acha que procuram outra coisa? O pecado, sim! É o pecado que
desejam!
– E você, o que deseja? – Perguntou o amigo.
– Quero apenas me divertir – respondeu Aílton
– Ainda vai se cansar dessa vida. Homem nenhum
aguenta. Nem o mais cafajeste dos homens! – O amigo aconselhou.
– Me cansar? Hora essa! Supomos que eu me canse.
Vou fazer o que? Casar-me? E a troco de que? Casaria se meu desejo fosse ser
traído! – Exclamou
Aílton .
– Nem todas são assim, e garanto! Minha esposa é uma
santa! Um exemplo de mulher! – Disse o amigo.
– Conversa! Depois de tudo que vivi e de tudo que
sei, não confio em mulher nenhuma. Não confiaria na sua, se fosse casado com
ela. – Respondeu
Aílton , com uma mistura de melíflua e tristeza.
– Canalha! Há de morrer só! Ouviste? Só! –
Praguejou o amigo, que se retirou do bar.
Aílton continuou a beber sozinho, sentado na mesa
de bar como se esperasse eternamente alguém lhe acompanhar, um alguém que nunca
chegaria. Era como se as simples palavras do amigo tivessem trincado a armadura
de infidelidade que
Aílton vestiu.
Porém apenas aparentava, pois
Aílton continuou com
sua vida mundana, dando pecado às pecadoras, como ele mesmo gostava de definir.
Não era raro a cena se repetir:
Aílton fisgava um moça, que na maioria das
vezes era uma bela moça. Com sua conversa – diga-se de passagem, era um dos poucos
homens que sabia conversar com uma mulher – ele conseguia despertar na moça um
desejo, o desejo do pecado. E conquistava mais uma.
Colocando em prática as lições que aprendeu, ao
final do primeiro beijo levava a pequena para sua casa. Além de mestre com as
palavras, era exímio na cama. Levava mulheres ao delírio. Seu quarto era uma
espécie de volúpia em quatro paredes; a luxúria se instalara no quarto. Era um
mestre que repudiava seu talento. Quantas e quantas vezes, depois de satisfazer
a vontade de uma pequena, pensava:
– É como
todas as outras. Não passa de uma vagabunda. Mal a conheço e está aqui, nua ao
meu lado. Não sei de onde vem, mas de sua nudez sou íntimo.
Quando já estava velho,
Aílton se pega pensando em
tudo que viveu, nas pequenas que teve, nos decotes que beijou, pensava nos
casamentos que terminaram por causa de seu charme, lembrava-se de tantas
mulheres que o amaram, de tantas que o desejaram; E enxergou que, na verdade,
não queria apenas se divertir, como havia dito ao amigo.
Aílton desejava uma
mulher para amar, uma mulher para acariciar, uma mulher para olhar nos olhos
dela e sentir-se feliz por ter ao seu lado alguém que lhe respeitava, que lhe
amava. Infelizmente, encontrou apenas pecadoras. Após a recordação,
Aílton teve a iluminação da verdade e admitiu para si mesmo ter sido um homem que não
conheceu o amor. Admitiu ter vivido como um homem que apenas fez amor.
Meses depois
Aílton morreu. O melhor epitáfio para
o homem sem amor seria: “Aqui jaz
Aílton, o paradoxo: Rodeado de mulheres que
o desejaram e sem nenhuma para chorar sua morte”.
Marco, nós não somos ninguém sem o amor, pois ele rege a nossa vida... Você retratou isso com muita propriedade. Na verdade, quem não sonha em ter um grande amor e ser feliz? Parabéns...
ResponderExcluirCom certeza, Lucila!
ExcluirFico muito contente por você acompanhar o blog! Muitíssimo obrigado =]
Tá escrevendo bem, hein, Marco gay...
ResponderExcluirGostei da história, do enredo, da sequência da exposição de ideias, embora não concorde com algumas coisas.
Não sei se aqui aparece meu nome. Por via das dúvidas, identificar-me-ei: João, o pedreiro.
Valeu, Jão! Eu estranharia se você concordasse com tudo hahahah
ExcluirObrigado por ter lido e volte para a obra!
Abraços!
Claro que seria estranho. Você sabe que meu esporte preferido é discordar de vocÊ kkkkkk
ResponderExcluirVc é bom, rapaz! me vi nesse conto e estou preocupado rsrs parabéns!
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