domingo, 18 de março de 2012

O homem sem amor


Aílton era o tipo conquistador, daqueles de cinema, dos contos. Na cidade onde morava, que não era grande nem pequena, as mulheres, casadas ou não, o conheciam e, mais cedo ou mais tarde, pegavam-se pensando em Aílton. Este nunca foi um homem de virtudes inabaláveis, de um senso moral aguçado. Saia com qualquer tipo de mulher, casadas ou não. Não há diferença entre elas – dizia ele – todas procuram o pecado!

Quando ainda era um garoto, ouvia as conversas dos mais velhos, cretinos mais velhos. Um ensinamento que Aílton aprendeu com as conversas, e que pôs em prática a vida toda, foi o de que o homem só era homem se tivesse várias mulheres. Não uma, ou duas, mas várias. Cresceu assim, com várias mulheres. Inegavelmente, se tornou um Doutor em Infidelidade; era o melhor. Conseguia sair com três ou quatro mulheres por semana sem que uma jamais desconfiasse da existência da outra. Em certa ocasião, enquanto bebia no bar com um amigo, disse:

– Comigo é assim mesmo, entendeu? Dou à mulher aquilo que ela deseja, aquilo que deseja! Ou você acha que procuram outra coisa? O pecado, sim! É o pecado que desejam!
– E você, o que deseja? – Perguntou o amigo.
– Quero apenas me divertir – respondeu Aílton
– Ainda vai se cansar dessa vida. Homem nenhum aguenta. Nem o mais cafajeste dos homens! – O amigo aconselhou.
– Me cansar? Hora essa! Supomos que eu me canse. Vou fazer o que? Casar-me? E a troco de que? Casaria se meu desejo fosse ser traído! – Exclamou  Aílton .
– Nem todas são assim, e garanto! Minha esposa é uma santa! Um exemplo de mulher! – Disse o amigo.
– Conversa! Depois de tudo que vivi e de tudo que sei, não confio em mulher nenhuma. Não confiaria na sua, se fosse casado com ela. – Respondeu  Aílton , com uma mistura de melíflua e tristeza.
– Canalha! Há de morrer só! Ouviste? Só! – Praguejou o amigo, que se retirou do bar.

Aílton continuou a beber sozinho, sentado na mesa de bar como se esperasse eternamente alguém lhe acompanhar, um alguém que nunca chegaria. Era como se as simples palavras do amigo tivessem trincado a armadura de infidelidade que  Aílton  vestiu.

Porém apenas aparentava, pois  Aílton  continuou com sua vida mundana, dando pecado às pecadoras, como ele mesmo gostava de definir. Não era raro a cena se repetir:  Aílton  fisgava um moça, que na maioria das vezes era uma bela moça. Com sua conversa – diga-se de passagem, era um dos poucos homens que sabia conversar com uma mulher – ele conseguia despertar na moça um desejo, o desejo do pecado. E conquistava mais uma.

Colocando em prática as lições que aprendeu, ao final do primeiro beijo levava a pequena para sua casa. Além de mestre com as palavras, era exímio na cama. Levava mulheres ao delírio. Seu quarto era uma espécie de volúpia em quatro paredes; a luxúria se instalara no quarto. Era um mestre que repudiava seu talento. Quantas e quantas vezes, depois de satisfazer a vontade de uma pequena, pensava:

 – É como todas as outras. Não passa de uma vagabunda. Mal a conheço e está aqui, nua ao meu lado. Não sei de onde vem, mas de sua nudez sou íntimo.

Quando já estava velho,  Aílton  se pega pensando em tudo que viveu, nas pequenas que teve, nos decotes que beijou, pensava nos casamentos que terminaram por causa de seu charme, lembrava-se de tantas mulheres que o amaram, de tantas que o desejaram; E enxergou que, na verdade, não queria apenas se divertir, como havia dito ao amigo.  Aílton  desejava uma mulher para amar, uma mulher para acariciar, uma mulher para olhar nos olhos dela e sentir-se feliz por ter ao seu lado alguém que lhe respeitava, que lhe amava. Infelizmente, encontrou apenas pecadoras. Após a recordação,  Aílton  teve a iluminação da verdade e admitiu para si mesmo ter sido um homem que não conheceu o amor. Admitiu ter vivido como um homem que apenas fez amor.

Meses depois  Aílton  morreu. O melhor epitáfio para o homem sem amor seria: “Aqui jaz  Aílton, o paradoxo: Rodeado de mulheres que o desejaram e sem nenhuma para chorar sua morte”.

6 comentários:

  1. Marco, nós não somos ninguém sem o amor, pois ele rege a nossa vida... Você retratou isso com muita propriedade. Na verdade, quem não sonha em ter um grande amor e ser feliz? Parabéns...

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    1. Com certeza, Lucila!
      Fico muito contente por você acompanhar o blog! Muitíssimo obrigado =]

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  2. Tá escrevendo bem, hein, Marco gay...
    Gostei da história, do enredo, da sequência da exposição de ideias, embora não concorde com algumas coisas.
    Não sei se aqui aparece meu nome. Por via das dúvidas, identificar-me-ei: João, o pedreiro.

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    1. Valeu, Jão! Eu estranharia se você concordasse com tudo hahahah
      Obrigado por ter lido e volte para a obra!
      Abraços!

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  3. Claro que seria estranho. Você sabe que meu esporte preferido é discordar de vocÊ kkkkkk

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  4. Vc é bom, rapaz! me vi nesse conto e estou preocupado rsrs parabéns!

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