sexta-feira, 2 de março de 2012

Até que a morte os separem

(Quebrando um pouco a rotina de postagem do meu blog, hoje posto um conto que escrevi em meados de novembro de 2011. Espero que gostem.)

Conheceram-se na faculdade, deviam ter seus 19 anos e estudavam junto. Entraram na universidade no mesmo ano, mas só deram conta da existência um do outro dois anos mais tarde, mesmo participando da mesma turma. Num trabalho de Direito Civil, se não estou enganado. Foi uma paixão daquelas que te fazem tremer em cima das próprias pernas, e, tanto Carlos quanto Angélica tinham a certeza de que haviam nascido um para o outro. Acreditavam que morreriam lado a lado, como num belo conto.

Realmente, estavam vivendo um conto de fadas dos mais maravilhosos, escrito a ouro. Carlos sempre adorou estudar, era um aluno dedicado e esforçado: Trabalhava de segunda a segunda para conseguir pagar as mensalidades e demais despesas universitárias, e para ter algum trocado para gastar com Angélica. Como a amada era da mesma sala, Carlos contava os minutos pra sair do trabalho, pegar um ônibus e viajar uma hora para, finalmente, chegar à faculdade e encontrar a mulher que amava.

Angélica, por sua vez, não precisava trabalhar para pagar os gastos universitários, afinal, seus pais pagavam tudo e, ainda, davam-lhe uma mesada para gastar da maneira que bem entendesse. Mas amava seu namorado. Via em Carlos algo mágico, só não sabia explicar o que era. A magia não repousava na beleza do rapaz – diga-se de passagem, que era um belo rapaz – talvez, fosse ver o namorado se esforçando tanto e com um objetivo no olhar.

Necessário contar o episódio do passeio no Parque do Ingá: Estavam no auge da paixão. Apenas o olhar de Angélica era suficiente para fazer Carlos sentir o coração pulsar como se fosse saltar pela boca. Trocaram juras de amor. Angélica sentia em Carlos uma espécie de porto-seguro, pois sabia que o namorado estaria sempre a seu lado, e sentia-se agradecida por isso. Quando pararam para admirar o lago, Calor disse:

– Meu amor, sabe que te amo verdadeiramente, não sabe?
– É claro – respondeu Angélica – Você é meu porto-seguro, coração!
– Quero que fiquemos juntos até o fim de nossas vidas. – Retrucou Carlos.
– Oh, querido! Eu também!
– Sabe, como os padres dizem: Até que a morte os separe!
– Até que a morte nos separe, meu amor! – Exclamou Angélica.

Mais três anos se passaram e ambos atingiram o grau de Bacharel em Direito, sem uma dependência e com rendimentos exemplares. Talvez, um fosse a energia que o outro necessitava, afinal, dizem que o segredo para o sucesso é fazer aquilo que se ama; fazendo com a pessoa amada, o resultado pode ser melhor ainda.

A teoria era verdadeira: Trabalhavam juntos e era apenas sucesso. Juntos, não havia causa impossível de ser ganha. Em três anos de trabalho, haviam juntado muito dinheiro e faziam sucesso como advogados.

Contava-se cinco anos desde que estavam juntos, desde o trabalho de Direito Civil. Carlos continuava a trabalhar muito, queria o melhor para seu ser amado. Contudo, não era idiota. Quando foi que tudo começara? Não tinha certeza, mas acreditava ter acontecido há um ano: Angélica não era mais a mesma. Alguma coisa havia mudado na mulher que Carlos sempre amou, sempre cuidou.

Ao chegar em casa, Carlos beijou a mulher, como sem sempre fazia. Mas o beijo da mulher era frio, não havia no beijo qualquer sinal do amor que os uniu. Na cama, a mulher já não desejava o homem que outrora amou e, quando Carlos a procurava, Angélica o evitava. Consternado, Carlos sentia que a própria mulher por ele tinha nojo;  ou que alguém já tivesse dado à Angélica o prazer que ele procurava. Preferia acreditar na primeira opção.

Foi naquele dia quente de novembro, depois de um dia cheio de trabalho e audiências, que Angélica deu-lhe o golpe mortal. Sentada à mesa de jantar, e com a calma de uma estátua, disse a Carlos:
– Quero me separar de você. Nosso amor já morreu e eu preciso viver a minha vida!

Angélica não disse, mas Carlos teve a certeza da infidelidade da mulher que sempre amou. Pela sua cabeça passou todos os planos que fizera para ambos e concluiu em pensamento: – “Não trabalhei tanto à toa. Tudo vai ser como planejamos quando estávamos apaixonados!”. – Ao passo que apenas respondeu para a mulher: – “Compreendo. Faça como bem entender”.

Satisfeita com a compreensão do pobre Carlos – maneira como ela denominava o homem que cuidou dela – Angélica foi deitar-se para, no dia seguinte, contar a Rodolfo que poderiam, finalmente, passar a viverem juntos. Estava feliz. Estava novamente apaixonada. Sentia-se viva.

Carlos entrou no quarto e viu o amor de sua vida dormir de maneira angelical. Pensou ver um sorriso levemente esboçado no canto da boca da mulher que um dia prometeu ficar ao seu lado até o fim da vida.

Taciturno, silencioso e com a calma de uma estátua, foi ao lado de Angélica e deu-lhe um beijo no rosto. Foi até o guarda-roupa e pegou seu revólver calibre 38. De pé, ao lado de Angélica, deu-lhe três tiros na face. Ainda com a calma de estátua, deitou-se ao lado de Angélica – que ainda parecia sorrir – e disse: – “Até que morte nos separe!”. – E deu um tiro na própria boca. Morreram lado a lado

2 comentários:

  1. Marco Aurélio, estou cada vez mais admirada com a sua criatividade e coerência em escrever contos que nos prendem a atenção. Pena que um grande amor teve um fim tão trágico. Continue nos presenteando com seus textos. Mais uma vez, parabéns.
    Lucila Maioli

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    1. A tragédia também faz parte da vida, então, procuro pensar sobre ela também. Fico muito feliz por ter gostado, Lucila. Muito obrigado por dedicar alguns minutos ao meu blog =)

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